Estado
Fogo em ônibus virou ‘modus operandi’ do crime no Rio, diz pesquisadora
Nos últimos 10 anos, 436 veículos foram incendiados no estado
15/08/2024 10:06:11O ato de incendiar ônibus passou de uma forma de manifestar insatisfação com o poder público para um meio de demonstrar e reafirmar poder por parte de grupos armados na cidade do Rio de Janeiro. A afirmação é da coordenadora do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (GENI-UFF), Carolina Grillo. Segundo ela, algo que antes era uma prática comum de demonstrar insatisfação, bastante espontânea por parte da população indignada com algo que tivesse ocorrido, foi incorporado ao “modus operandi” de chefes locais de grupos armados como forma de demonstração de poder e de ameaçar o poder público por meio da interrupção da ordem.
Conforme dados disponibilizados pelo Sindicato das Empresas de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro, 32 veículos foram queimados de agosto do ano passado a julho de 2024, gerando um prejuízo de aproximadamente R$ 22,9 milhões. Outros 2.516 foram vandalizados e 135 sequestrados para serem utilizados como barricadas. Quanto aos veículos sequestrados, os bairros mais afetados foram Vila Aliança, Cordovil e Ramos.
Nos últimos dez anos, 423 veículos foram incendiados criminosamente no estado, sendo 236 apenas na capital, de acordo com dados da Federação das Empresas de Mobilidade do Estado do Rio de Janeiro (Semove). O segundo local com maior número de ocorrências foi Duque de Caxias, com 53 casos, mas também há registros de incêndios fora da Região Metropolitana, como em Angra dos Reis, Macaé, Cabo Frio, Resende e Paraty.
“O município do Rio de Janeiro representa mais da metade dos casos de 2014 a 2024. Este ano já foram 12 — considerando o total de veículos, além dos municipais —, enquanto no ano passado, por conta dos 35 incendiados em outubro, foram 58”, avalia o gerente de Planejamento e Controle da Semove, Guilherme Wilson.
Apesar dos números levantados pela Rio Ônibus e pela Semove, a professora da UFF aponta para uma subnotificação das ocorrências registradas oficialmente pela Secretaria de Estado de Polícia Civil do Rio de Janeiro. Por meio de pedido de acesso à informação, a pasta disse que 33 incêndios criminosos contra ônibus foram registrados em delegacias nos últimos cinco anos, sendo 15 em 2023, 20 a menos que os noticiados em outubro de 2023. Ainda conforme os dados da secretaria, 11 foram queimados em 2019, um em 2020, um em 2021 e cinco em 2022.
Para diretor de Comunicação e Relações Institucionais da Rio Ônibus, o primeiro efeito dos atos de incêndio e vandalização dos ônibus é cercear o direito de ir e vir dos moradores das regiões afetadas. “Essas linhas não operam somente naquele local, elas circulam por outras regiões. Quando uma delas para de rodar, toda população usuária desse ônibus, independente de morar na comunidade ou não, é prejudicada”, argumenta. Hoje, de acordo com a Rio Ônibus, as empresas levam em média 180 dias para repor um veículo destruído, considerando que possuam recursos suficientes para realizar a substituição. (Reportagem e foto: Agência Brasil / Tomaz Silva)